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5 de Agosto

  Camila, estou ouvindo Cheek To Cheek - Louis Armstrong, e quero que você ouça também.   Hoje fazem 11 anos que você se tornou a pessoa mais exótica da família. Eu pensei que conseguiria ocupar esse posto com minhas tatuagens, piercings e roupas pretas, mas esse lugar é seu simplesmente por um motivo: você, além de ter piercing e tatuagem, também se tornou atemporal e consegue morar em vários lugares extremamente inusitados, como, por exemplo, nos meus cabelos embaraçados (antes você fazia vários penteados legais em mim, lembra?). Ok, brincadeiras à parte, você mora em outra dimensão e mesmo assim vem nos visitar de maneiras mega alternativas. Hoje a tia Jane disse que você estava no sonho dela de ontem à noite, com ramos de folha de uva envolvendo seu corpo. Nós comentamos sobre o fato de essa data ser importante e sobre algumas outras coisas, mas a bateria do meu celular acabou e então eu fui para a cozinha. Comentei com o tio Paulo enquanto cortava algumas batatas e disse a ele que
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SOU JOVEM

Os percalços de um jovem residem na falta de experiência, que convida o medo para tomar um chá. Obviamente que a insegurança faz parte desse ilustre e lúgubre evento. É importante esclarecer que a juventude também é um estado de espírito, e não somente uma contabilização dos anos já vividos, porém nesse momento abordarei mais a questão da imaturidade, deixando de lado a ideia de “espírito jovial”, pois existem pessoas com pouca idade e sem nenhuma jovialidade atrelada. Talvez eu esteja sendo impessoal demais, irei falar de minha vivência a partir de agora. Considero-me uma moça centrada, porém muito insegura e seletiva. Desde criança sempre tive uma postura um tanto quanto peculiar, o que afastava outras crianças. Por que estou falando isso? Porque agora, em minha juventude não está sendo muito diferente… Há uma diferença muito grande em meu modo de interagir, e percebo que minhas pautas não soam muito aprazíveis aos que compartilham do mesmo número que eu (23 anos). Socializar é comp

VOLTAIRE E FAKE NEWS

Entre os principais acontecimentos da Idade Moderna, se assentam o iluminismo e o início da revolução francesa, assim como, também, o renascimento, a reforma religiosa, as grandes navegações e o absolutismo. Há certas similaridades entre a situação econômica da Europa no século XV e o contexto, que, infelizmente, pode-se afirmar ser mundial, em relação, não só ao mesmo setor como em vários outros, o que nos relembra os motivos pelos quais o iluminismo se fez tão relevante, marcando a história do mundo. A problemática das fake news me traz à memória um de nossos grandes pensadores dessa mesma era: o famigerado "Voltaire"; O mesmo, durante grande parte de sua vida esteve envolvido em polêmicas que, por mais inacreditável que pareça, facilmente poderiam ser lidas socialmente como "fake news"; naquele tempo, era comum escritores serem envolvidos em polêmicas relacionadas tanto ao povo quanto a outros intelectuais e aos que compunham Clero, tendo em vista a necessidade d

O AMOR TEM MEMÓRIA

Não paramos muito para pensar no valor de uma lembrança, porém há algo muito precioso em lembrar-se. A mente é uma incrível invenção divina.  É o lugar da atividade psíquica, considerada na sua totalidade e engloba operações conscientes e não conscientes. Não é, portanto, algo material – uma coisa – mas sim algo imaterial, que não se vê nem se pode tocar. Transcende, e é aí que mora o mistério. Meu psicólogo me contou que sua mãe está numa fase crítica, sofre de Alzheimer e já não tem tanta facilidade para manejar as próprias memórias, mas isso não significa que elas não estejam lá, armazenadas nas misteriosas gavetas da mente. Ele me contou que fizera muitas coisas na tentativa de ajudá-la a reconhecê-lo. Tentara de tudo, porém o que foi verdadeiramente efetivo me deixou emocionada: uma pequena oração que começava com “Ich bin klein…” e o resto eu já não consigo recordar porque alemão ainda não é uma língua que eu domine, porém o importante é que ela completou a oração, pois se tratav

NINGUÉM

  CENA I  Ando pelas ruas e sinto os olhares de cobiça. Muitos são os homens que desejam meu corpo, e eu sei disso. Eu sinto prazer nisso e simplesmente me permito ser cortejada. Eles sorriem com malícia e eu simplesmente me faço de desentendida. Sinto olhos beijarem minha extensão corporal enquanto caminho em direção ao meu trabalho, que é dar prazer. Sim, sou uma meretriz. Realizo as fantasias mais tresloucadas e recebo dinheiro em troca, para resumir bem. Também faço serviços básicos e de curta duração, obviamente. Eu poderia dizer que sou uma vítima da vida e alegar que sofro por ser uma hetaira, porém seria uma mentira. A questão mais expressiva em minha forma de ver a vida é que, no que tange o coito, não o encaro como fonte de realização romântica. O vejo como um jogo, e confesso saber jogar muito bem. Quando você entende os mecanismos do prazer, simplesmente não há mais muitos segredos a serem escondidos. Você simplesmente sabe o que fazer e como fazer. Muitos foram os que tent

NUNCA MAIS

 Estou enlouquecendo de tanto que me detesto por te querer  mesmo sabendo que você  nunca vai gostar de mim  Não no mesmo nível que eu te amo.  O alívio inexiste,  e eu só o encontro às vezes, quando fecho os olhos  e me imagino longe  desses sentimentos que alimentei a seu respeito.  Eu só queria te esquecer de uma vez por todas,  mas parece que você insiste em morar dentro da minha cabeça.  Nem consigo escrever direito,  de tão cansada que eu estou de você aqui,  preso em mim...  Essa fantasia de existir um eu e você,  um nós,  precisa acabar de uma vez... Depois disso eu nunca mais quero me apaixonar na vida.  Nunca mais.  (Victória Elsner)

CEMITÉRIO

 Meu corpo é o sussurro das almas perdidas.  Nas ruas,  nas curvas turvas das inúmeras casas da morte. As lápides bordam flores secas de um amor relapso em vida. As lágrimas gritam em suas poças, refletindo angústia. Deitada em um chão imundo de um lar indesejado pela maior parte dos seres, sinto-me inclinada a ficar. Ficar no cemitério dos teus pesadelos e ser a lápide das tuas retratadas indiferenças, chamadas rosas. Brancas.  No súbito cansaço dos meus pensamentos barrocos, imaginei ser quem carrega o céu e o inferno nas costas. Imaginei a cova da morte Imaginei o cemitério dos vivos Imaginei... mas só vi relento.  Senti o sabor da terra em meus lábios, e os corpos ligando-se ao meu, como se fossemos um. Amei tantas vezes por tantos túmulos que a morte me revigorou. Chorei tanto pelo pranto dos vivos que, em cada lágrima caída em meu corpo, agradeci pela beleza que há no perdão.  Sou um cemitério dos teus segredos.  Tu, que és morto e nem sabes.  Sou a lápide mais firme,  pois ao in